quinta-feira, 28 de agosto de 2008

SENADOR CRISTOVAM BUARQUE: PROFESSORES, PT e SUCEÇÃO PRESIDENCIAL

---------- Forwarded message ----------
From: Mensagem Cristovam
Date: 2008/7/30
Subject: Mensagem Senador Cristovam
To: fernandoclaro.dias@gmail.com


Olá, a cada um e a cada uma,

Divido com vocês, abaixo, alguns textos, entre artigo de opinião e
matérias de jornal que considero úteis e importantes para nossa
leitura do país que queremos.

Um abraço,
Cristovam

A questão do piso salarial em São Paulo - 26/07/08

Por Cristovam Buarque

Se as contas da Secretaria de Educação de São Paulo estiverem
corretas, significa que o governo paulista está sobrecarregando os
seus professores e obrigando todos a uma carga desumana de 40h. Um
professor que ministra 8h de aula está cumprindo uma maratona.

Nas as últimas horas do dia, nos últimos dias da semana, os alunos não
estão assistindo mais às aulas. Estão assistindo à resistência do
professor em sua maratona. É preciso sim cumprir a lei do piso
salarial nacional do magistério no que se refere à carga horária. Esse
artigo veio da Câmara dos Deputados. Não estava no meu projeto de lei
inicial.

Mas eu acho que preenche uma lacuna porque criou um piso de número de
aulas do professor. A capital paulista tem um orçamento de quase 100
bilhões. Se isso vai custar 1,4 bilhão, é possível que o governo
daquele estado não esteja cumprindo a determinação constitucional de
investir 25% do orçamento na educação.
Deveria gastar 25 bilhões por ano. Se o aumento vai custar 10%, como
afirma a secretária de educação, significa que São Paulo só investe
14%. Faltaria 11%. Talvez esteja nas universidades estaduais.É preciso
investir mais na educação de base. Mas se o governo de São Paulo não
tem condições de cobrir esse custo, que é necessário para melhorar na
educação, confirma-se o que venho defendendo: é preciso federalizar a
educação básica no Brasil.

Ou os municípios e estados não têm dinheiro, ou não querem fazer o que
é necessário, porque têm outras prioridades em seus orçamentos. Só o
governo federal é capaz de dar uma educação de qualidade e equivalente
a todos os municípios e estados brasileiros. Essas contas de São Paulo
mostram que mesmo o estado mais rico do país está sobrecarregando seus
professores e está com dificuldades para corrigir esta situação.

Finalmente, mas não menos importante, eu tenho certeza de que se São
Paulo adotasse a carga horária de 28h/aula por semana, prevista na lei
do piso salarial, não apenas a educação melhoraria muito ¿ por causa
das horas de preparação das aulas e até mesmo de relaxamento das
cordas vocais dos professores ¿ mas também seria possível reduzir os
custos de um dos itens que mais pegam sobre a educação no Brasil: o
número de professores de licença por motivos de saúde. Por causa do
cansaço, afonia e outras doenças causadas pela sobrecarga. Ainda mais
que uma carga mais eficiente de aulas melhoraria o desempenho dos
professores e, em conseqüência, o dos alunos, reduzindo a reprovação
que é outro dos itens que mais pesam no financiamento da educação
brasileira.
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Abusos invisíveis - Jornal do Commercio - 25/07/2008

* Cristovam Buarque

Nos últimos dias, o sistema judiciário fez duas descobertas: existem
algemas no Brasil e o uso delas é um abuso, ainda mais grave quando na
frente da televisão.

A descoberta tem uma explicação: as algemas eram invisíveis enquanto
os presos eram pobres e sem camisas. Descobriram que há abuso no uso
de algemas. Pena que não estejamos descobrindo outros abusos, porque
eles ainda não chegaram aos ricos.

Durante séculos, nosso país utilizou o seqüestro de africanos para
servirem como trabalhadores em nossa agricultura e ninguém via como
seqüestro. Se um único brasileiro branco e livre fosse seqüestrado na
África e levado para outro continente, a elite empresarial brasileira
daquele tempo logo descobriria que havia um abuso na retirada de uma
pessoa de sua casa para levá-la e vendê-la para o trabalho forçado.
Esses mesmos escravos eram sujeitos à tortura, às penas de trabalho
forçado, e à venda de seus filhos, como também às chibatadas. Mas era
com os pobres, excluídos, que o abuso ficava invisível. Não era visto.
O sistema judiciário daquele tempo ainda não tinha descoberto que isso
acontecia.

No século 21 ainda existem prisões diferenciadas para pessoas que
cometeram o mesmo tipo de crime. Quando, raramente, um criminoso rico
vai preso e fica preso, tem direito a uma prisão especial, diferente
das infernais prisões onde são jogados os criminosos pobres. Por isso,
não é visto ainda como abuso colocar um preso pobre nas condições das
prisões comuns. Se algum dia, um rico for preso e não tiver um diploma
superior, provavelmente o sistema judiciário brasileiro vai fazer
outra grande descoberta: o abuso da má qualidade das prisões do
brasileiro comum.

Cerca de 15 milhões de adultos não sabem ler e outros 30 milhões não
entendem o que lêem, porque os analfabetos, todos eles, são filhos de
famílias humildes. Se um dia aparecesse um rico analfabeto, certamente
o sistema judiciário faria a grande descoberta de que poder público é
omisso ao deixar que isto aconteça no Brasil. Mas, os analfabetos são
pobres, invisíveis.

Estima-se que a cada minuto de ano letivo (200 dias, com 4 horas) 60
crianças abandonam a escola. Isso não é visto como abuso. Porque o
abuso não é visto. Se uma única criança rica fosse impedida de
estudar, o abuso seria rapidamente descoberto e provavelmente tratado.
Como acontece quando faltam remédios para as doenças que vitimam os
ricos e os pobres, mas sem qualquer criminalização das autoridades
quando os hospitais públicos ficam superlotados.

As autoridades do Poder Judiciário têm duas desculpas para explicar a
invisibilidade dos abusos. A primeira, é que só podem agir quando
provocadas por um advogado, e estes só trabalham para os ricos. O
Poder Judiciário, portanto estaria isento. Não teria culpa de que os
defensores públicos sejam poucos, e de que os advogados mais
competentes não trabalhem para os pobres. Esquecem de dizer que além
da competência, influi também a rede de conexões que o advogado tem. A
segunda justificativa é que a culpa é do Poder Legislativo que faz
leis imperfeitas.

A culpa é de todos nós que aceitamos um país onde há dois tipos de
pessoas: os incluídos, beneficiários da lei, e os excluídos, vítimas
da lei: A culpa é de todos que toleramos os abusos invisíveis.

*Cristovam Buarque é senador (PDT/DF).

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Jornal Correio Braziliense (DF) - 26/07/2008

Salário mínimo de professor é ameaçado pela alta do custo de vida

Em janeiro do próximo ano, pelo menos 800 mil professores de escolas
públicas do ensino básico serão beneficiados com as duas primeiras
parcelas do reajuste salarial, que vai unificar o valor mínimo pago
aos professores de todo o país. Em janeiro de 2010, quando a terceira
prestação for paga, os docentes terão que ganhar, no mínimo, R$ 950
por mês. Apesar de ser uma reivindicação antiga da categoria, a
criação de um piso nacional poderá gerar insatisfação em um curto
espaço de tempo, segundo o próprio autor do projeto que resultou na
Lei nº 11.738, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no
último dia 16, o senador Cristovam Buarque.

Mariana Flores
Da Equipe do Correio Braziliense

Em janeiro do próximo ano, pelo menos 800 mil professores de escolas
públicas do ensino básico serão beneficiados com as duas primeiras
parcelas do reajuste salarial, que vai unificar o valor mínimo pago
aos professores de todo o país. Em janeiro de 2010, quando a terceira
prestação for paga, os docentes terão que ganhar, no mínimo, R$ 950
por mês. Apesar de ser uma reivindicação antiga da categoria, a
criação de um piso nacional poderá gerar insatisfação em um curto
espaço de tempo, segundo o próprio autor do projeto que resultou na
Lei nº 11.738, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no
último dia 16, o senador Cristovam Buarque. O problema, segundo ele, é
que com a inflação elevada, o valor rapidamente perderá seu poder de
compra. Com as alterações realizadas no Congresso, a lei prevê que o
piso seja reajustado anualmente com o mesmo percentual de crescimento
do valor mínimo por aluno previsto no orçamento. Como há ameaça de o
indexador não acompanhar o aumento do custo de vida no país, as greves
podem ser a saída para que os professores garantam reajustes maiores
nos salários. "E agora elas terão mais força", alerta o senador.

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Inflação pode matar piso

Carlos Moura/CB/D.A Press
``Nós precisamos ter, mais adiante, um reajuste conforme a realidade
da economia em geral e não conforme apenas os recursos que são
enviados para a educação´´


A criação de um piso era reivindicação antiga dos professores. O
salário mais alto garante a qualidade do ensino?
Não. O salário maior é uma condição necessária, mas não é suficiente.
Sem salários mais altos, não vai ter como atrair bons quadros, não vai
ter como incentivar a formação, nem a dedicação. Professor é feito de
cabeça, coração e bolso. Cabeça bem formada, coração bem motivado e
bolso bem remunerado. Mas salário só resolve um ponto. Por isso, o
aumento de salário tem que estar vinculado a uma maior formação do
professor, maior dedicação e análise dos resultados que ele consegue.
E para ter esses resultados, é preciso que ele disponha de
equipamentos, tanto os de construção civil, como escola bonita.

Hoje, os R$ 950 equivalem a 2,3 salários mínimos, mas em 2010 deverão
valer menos de dois salários mínimos. O valor do piso será reajustado
anualmente conforme a correção dos valores que são repassados para a
educação. Esse é o índice mais adequado para
aumentar os salários?
Esse não é um reajuste com base em custo de vida, com base em ganhos
reais, como hoje tem o salário mínimo. É um reajuste com base apenas
em quanto aumenta a transferência para a educação. É a forma que se
encontrou para dar o reajuste dentro dos limites previstos para a
educação, mas ainda não é o reajuste que a gente precisa para não
perder para a inflação. Hoje, o piso de todos os trabalhadores, que é
o salário mínimo, já tem uma regra para o reajuste, que prevê aumento
conforme o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). Nós precisamos
ter, mais adiante, um reajuste conforme a realidade da economia em
geral e não conforme apenas os recursos que são enviados para a
educação.

Até 2010, a inflação pode corroer o reajuste. Há possibilidade de o
Congresso Nacional votar uma nova lei, que estipule outros indexadores
para vincular ao aumento?
Se a inflação vier, mata tudo, começa matando meu piso salarial. A Lei
Buarque, como estão chamando aí, perde todo o valor. Estou pensando se
apresento ou não um projeto de lei prevendo uma forma de reajuste. Mas
hoje eu prefiro lutar para que não tenha inflação. A primeira luta
deve ser contra a inflação, a segunda pode ser por uma política de
reajuste.

Sem a garantia de correção dos valores que garantam a manutenção do
poder aquisitivo, as greves podem se tornar o único instrumento de
pressão dos professores?
Os professores não vão ficar contentes, eles vão sentir uma melhora.
Mas, daqui a pouco, não estarão satisfeitos, é natural. É um risco
enfrentar greves nacionais, mas eu garanto que ela não vai durar 100
dias, nem 90, nem 60 e talvez nem 30. Uma greve municipal hoje dura
meses. Mas é difícil fazer uma greve nacional, quando tiver é porque
os professores estarão muito irritados. Criando a carreira federal aí
sim, eles vão ganhar mais força. Mas professor precisa ter força.
Quando um banco faz greve, só dura dois, três dias. Quando um
professor faz greve dura dois, três meses.

O projeto sancionado pelo presidente Lula pode trazer um novo fantasma
de greve para o governo?
Se o governo pensar assim é porque não está ligando para a educação.
As outras categorias federais fazem greves todos os dias, como
auditores, policiais, por que que professor não pode? Mas deveria
haver um pacto para não haver greve, ela destrói a educação. Mas com
R$ 950 não temos moral para pedir pacto. Defendo um piso mínimo de R$
4 mil. Com esse valor, dá para propor um pacto com os professores.

Como deve ser feita a negociação entre os municípios e o governo
para oficializar o repasse dos recursos adicionais?
O Brasil é um país com um sistema de informação muito completo.
Sabe-se perfeitamente quem pode e quem não pode pagar, quem tem que
fazer um esforço maior e quem não tem que fazer esforço. Hoje, com o
dinheiro do Fundeb, já é possível cobrir esse piso na maior parte das
cidades. É uma questão de ajustar quem recebe mais e quem recebe
menos, mas não é difícil. O governo federal sabe quantos professores
tem, quanto cada um deles ganha e qual é a receita das prefeituras.
Com essas três informações, vai saber onde deve injetar dinheiro.

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SP terá de gastar R$ 1,4 bi para cumprir a nova lei da educação

FÁBIO TAKAHASHI
da Folha de S.Paulo - 26/7/2008

A lei federal aprovada neste mês que estabelece novas regras para a
educação trará um gasto adicional de R$ 1,4 bilhão para a rede
estadual de São Paulo, segundo estimativa do próprio governo. Esse
valor equivale a 10% do orçamento da pasta estadual da Educação.

A lei estabelece em 33% o tempo mínimo que os professores da educação
básica terão que dedicar a atividades extraclasse, como preparação de
aulas e correção de provas.

Como hoje na rede paulista essa proporção é de 20%, será necessário
contratar professores ou aumentar a jornada para cumprir a
determinação.

"Ainda analisamos como iremos nos adaptar, mas provavelmente teremos
de retirar verba de outras atividades, como reforma de escolas",
afirmou ontem a secretária de Educação do governo Serra (PSDB), Maria
Helena Guimarães, após reunião com o secretário do Planejamento,
Francisco Luna, que apresentou os dados.

"Consideramos importante um tempo maior para preparar aula. O problema
é como fazer isso no prazo", disse ela.

A mesma lei estabeleceu em R$ 950 o piso salarial nacional, mas esse
item não trará impactos à rede paulista, pois, segundo a secretaria,
seu patamar mínimo já é de R$ 1.309.

A lei entrou em vigor, mas, como o ano letivo está em andamento, sua
aplicação é prevista para 2009. O texto não fixa prazo para a
adaptação.

Pela estimativa do governo de São Paulo, para cobrir a diferença na
dedicação a atividades extraclasse será necessário aumentar em 1/3 o
número de professores da rede (hoje são 250 mil) já em 2009.

Outra opção é elevar a jornada. As duas opções têm custos semelhantes,
diz a secretaria.

Segundo Maria Helena, uma das medidas estudadas pelos secretários
estaduais de Educação é apresentar à União um pedido de revogação do
dispositivo referente à jornada.

A lei, proposta pelo senador Cristovam Buarque (PDT-DF), foi aprovada
pelo Congresso Nacional no início do mês e sancionada pelo presidente
Lula. Para Buarque, as medidas poderão trazer economia, "pois o
professor adoecerá menos e não precisará de substituto".

A assessoria de imprensa do MEC informou que o ministério "considera
legítima a preocupação apresentada, mas aguarda os estudos dos
secretários estaduais e municipais de Educação para se pronunciar".

A presidente da Apeoesp (sindicato dos professores da rede estadual de
SP), Maria Izabel Azevedo Noronha, também defende que o professor
adoecerá menos com a nova lei. "Além disso, a mudança deixará os
professores mais motivados e preparados, o que melhorará a qualidade
da educação."

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Mais atividade docente fora de classe gera rombo de R$ 1,4 bi em SP -
Estadão 26/07/2008

Lei ampliou tempo extra-aula para 33% das 40 horas semanais de
jornada, o que demanda mais contratações

Renata Cafardo

A nova lei que estipula um piso salarial nacional para os professores
vai provocar um impacto de R$ 1,420 bilhão ao ano na educação do
Estado de São Paulo, o que equivaleria a um corte de 10% no orçamento
atual da área.

E não pelo salário, já que os docentes da rede pública paulista
recebem remuneração mínima de R$ 1.502 mensais. O problema é que a lei
prevê também que os profissionais passem a dedicar 33% de suas 40
horas semanais a atividades fora da sala de aula. Atualmente, esse
tempo corresponde a 20%.
"Para cada três professores, teremos que ter mais um", disse ao Estado
a secretária estadual de Educação, Maria Helena Guimarães de Castro.
"Não temos de onde tirar dinheiro para isso." O Estado tem hoje cerca
de 245 mil professores em turnos de 24 horas, 30 horas e 40 horas
semanais. Segundo a secretária, além da contratação de novos
professores, outros precisariam aumentar suas jornadas para se adaptar
à nova lei.
O impacto no orçamento faz parte de um estudo elaborado nesta semana
pela Secretaria da Educação que será apresentado em reunião do
Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) na quinta-feira.
Há informações de que Minas seria o Estado que mais sofreria com a lei
do piso; teria R$ 2 bilhões a mais de despesas. Procurado pelo Estado,
o governo mineiro informou que ainda está avaliando o impacto no
orçamento da educação e não confirmou o número.
A secretária de Educação do Rio Grande do Sul, Mariza Abreu, declarou
ontem que o governo gaúcho está estudando possibilidades de pedir a
mudança da legislação atual porque o aumento do piso deve aumentar as
despesas da pasta em R$ 1,5 bilhão. "Em última instância, apelaremos
ao Poder Judiciário, o governo federal não pode onerar os outros entes
federados na forma em que está o projeto", disse. O piso atual no
Estado para 40 horas de trabalho é R$ 862,80. O orçamento da
Secretaria da Educação gaúcha é de R$ 3,7 bilhões, R$ 3,2 bilhões
apenas para folha de pagamento de ativos e aposentados.
"Os sistemas de ensino dos Estados hoje têm entre 70% e 80%
comprometidos com a folha de pagamento", diz Maria Helena, que se
declara a favor do piso de R$ 950, sancionado dia 16 de julho pelo
presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O orçamento deste ano de São
Paulo está em cerca de R$ 14 bilhões - 73% são para salários.
Para ela, também esse detalhe da lei é inconstitucional. "É muito
estranho uma lei federal interferir na carreira dos Estados e
municípios, somos uma federação", diz Maria Helena. A secretária
acredita que, caso a lei permaneça desse jeito, será preciso cortar
incorporações de gratificações aos salários dos professores paulistas,
obras em escolas e outros programas pedagógicos.
A ampliação do tempo para atividades extraclasse foi resultado de uma
emenda que surgiu durante o debate da lei na Câmara. O projeto inicial
do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) não previa a mudança. Ele diz
ser a favor de que professores tenham um terço de suas jornadas para
prepararem aulas, estudarem ou mesmo descansarem. "Mesmo assim, são
quase 6 horas em sala de aula, na frente do aluno, isso já é muito",
diz Cristovam. Para ele, São Paulo e outros Estados que não tiverem
como arcar financeiramente com as mudanças devem pedir dinheiro ao
governo federal. "Isso é mais uma demonstração de que a educação no
País deveria ser federalizada."
Procurado pelo Estado, o Ministério da Educação (MEC) informou por
meio de sua Assessoria de Imprensa que o ministro Fernando Haddad
aguarda os estudos dos Estados sobre o impacto para decidir se algo
será feito - e o que. Antes da sanção do presidente à lei, o Consed
chegou a pedir ao governo que vetasse esse trecho, já prevendo aumento
de despesas de Estados e municípios. A lei passa a valer a partir de
janeiro de 2009.

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Jornal de Brasília - 27/07/2008

O senador Cristovam Buarque (PDT), que sonha em se dedicar em tempo
integral à UnB, não descarta voltar a se candidatar a presidente da
República. Assim como também pode tentar uma reeleição ao Senado e,
por último, voltar ao Governo do Distrito Federal. Tudo dependerá das
alianças construídas até 2010. Apesar de fazer algumas críticas à
gestão do governador José Roberto Arruda, não se opõe à uma possível
aliança com o DEM. Contudo, deixa claro que, por uma questão de
"credibilidade com a opinião pública", está fora de cogitação se aliar
ao ex-governador Joaquim Roriz. Cristovam, que foi demitido por Lula
do cargo de ministro da Educação por telefone, em 2004, diz que não
guarda mágoas do PT e afirma que se sente realizado com os projetos na
área da Educação que vem conseguindo aprovar em 2008. Ele nega que
tenha saído do PT por causa do escândalo do mensalão. "O PT saiu do
PT", resume.

O que significa objetivamente na educação o possível aumento do piso
salarial dos professores?
O que é importante do piso é o fato dele ser nacional. O professor vai
se sentir brasileiro pela primeira vez. O passo seguinte vai ser uma
carreira nacional do professor. Além disso, o valor de R$ 950, que
ainda acho pouquíssimo, já vai atender entre 800 mil e 1,5 milhão de
professores com aumento salarial.

O senhor teve uma outra grande vitória quando conseguiu aprovar o
projeto que obriga as escolas públicas a disponibilizarem vagas para
crianças a partir de quatro anos. O senhor começa a colher os frutos
na melhoria da educação brasileira?
Eu acho que sim. Esse projeto eu dei entrada pela primeira vez na Casa
Civil quando era ministro. Naquela época, por alguma razão, o governo
preferiu não dar entrada no projeto. Então, eu voltei para o Senado e
comecei a dar entrada nos projetos. Esses são dois de quase cem
projetos.

Se a Câmara aprovar o projeto que acaba com a incidência da
Desvinculação de Receitas da União (DRU) na educação até 2011, qual
vai ser o impacto desses 20% a mais que serão investidos na área?
Já no primeiro ano R$ 1,5 bilhão. Depois, vai subindo até que, em
quatro anos, deve chegar a R$ 4,5 bilhões ou mesmo R$ 7 bilhões, se a
gente leva em conta o aumento da arrecadação. Isso significa quase que
dobrar o dinheiro que o governo aplica na educação.

"Se me perguntar qual é o cargo que eu gostaria de disputar em 2010
seria o de presidente da República. A segunda opção seria o Senado"

O senhor acredita que o projeto que suspende os sigilos bancário e
fiscal de quem ocupa cargos eletivos, de comissão ou confiança pode
ser aprovado?
Eu espero que sim. Era para ter sido aprovado na Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, mas, infelizmente, o senador
Aloísio Mercadante (PT-SP) pediu vistas do projeto. Uma pena. Mas eu
acho que há clima para aprovar.

Mas seria um tiro no pé de parlamentares.
Eu acredito que de um certo número. Mas, ainda acho que a maior parte
dos parlamentares não têm receio de abrir seu sigilo. Acho que é uma
minoria que tem medo de abrir seu sigilo. Minoria que deve alguma
coisa.

E sobre as eleições de 2010, nós já podemos falar de uma dobradinha
entre o senhor e o recém-filiado ao PT, Agnelo Queiroz?
Não é impossível porque o PDT ainda é um partido pequeno no DF. Não
vai ter mais a lei de verticalização. Então, mesmo que haja candidato
a presidente do PDT, poderão haver alianças locais. Hoje, não tem
porque descartar, também, uma aliança com o governador Arruda. O que
acho impossível, e o povo não entenderia, seria uma aliança com o
bloco de Roriz. Já não é mais por preconceito, que já foram todos
quebrados. Mas, por uma questão de credibilidade com a opinião
pública. Mas eu não nego que a vocação do PDT se afina com os partidos
do bloco de esquerda.

O senhor é favorável ao apoio do seu partido ao governo Arruda?
Nós estamos no governo Arruda, embora de maneira muito marginal. Não
apenas por participação em cargos, porque para mim isso não é o
fundamental, mas, sobretudo, por participação na formulação das
políticas. Por exemplo, o PDT nunca foi ouvido sobre a política de
saúde. Mesmo na educação, que eu sugeri, mas terminou sem ser aceito,
era a implantação do horário integral por cidades.
Estamos na tangente do governo Arruda e defendo isso, pelo menos, até
o dia 23 de agosto, quando vamos fazer uma avaliação das políticas,
dos resultados e da relação do PDT com o governo Arruda.

O senhor pode fazer uma avaliação do atual governo do DF?
É um governo que tem pontos positivos. Por exemplo, a defesa da
legalidade da ocupação do solo, que é uma coisa que eu sempre lutei.
Mas, nesse período todo, faltou ainda dar um salto na saúde, por
exemplo.

Voltando às eleições de 2010, muitos petistas não descartam uma
aliança com o PMDB. Como o senhor vê essa possível união?
Eu creio que essa união pode inviabilizar a relação do PT com o PDT.
Volto a insistir. O que para a opinião pública parece estranho, sempre
é de fato estranho.
E certas alianças parecem estranhas.

O senhor ainda pode se candidatar à presidência da República?
Se o PDT quiser eu estou pronto para me candidatar à presidência da
República. Se me perguntar qual é o cargo que eu gostaria de disputar
em 2010 seria o de presidente da República. Não tenho a ilusão de que
o PDT e eu ganharíamos, embora muita coisa possa acontecer. Mas nós
marcaríamos, definitivamente, uma posição na história desse País na
defesa da revolução da educação.

Como nas últimas eleições?
Na campanha de 2006, mesmo com apenas 2,5%, acho que já deixamos uma
marca. A educação passou a ser um tema. Com uma nova candidatura eu
acho que teria bem mais de 2,5%, mesmo que não chegasse ao segundo
turno. E aí, não só deixaria a marca no programa, mas também, ajudaria
muito a decidir para onde iria o segundo turno.

No caso do partido não optar por uma candidatura à presidência, o
natural seria o senhor sair candidato a governador ou senador?
Na verdade o mais natural para quem vai concluir o mandato com 66 anos
era voltar a se dedicar em tempo integral à Universidade de Brasília.
Porque aos 66 anos, talvez seja a hora de deixar para os jovens e,
também, de realizar alguns sonhos pessoais. Não sou daqueles que acham
que político deve morrer no mandato. Eu quero escrever muito e ainda
tenho muitos livros para ler. Mas, a outra opção que eu teria, em
ordem, seria ser candidato ao Senado outra vez. Se isso não for
possível, seria ser candidato a governador, se isso for importante
para atender ao anseio de uma parcela da população do Distrito
Federal, que quer dar um voto de esquerda.

O senhor tem mágoas do PT e do presidente Lula, devido a forma como
ocorreu sua saída do Ministério?
Não. Mágoa a gente pode ter de mulher, namorada, mas não com companheiro.
No caso do Lula, apesar de ter sido demitido daquela forma, quando as
coisas estavam começando a acontecer, e que foi muito ruim para o meu
projeto de querer ficar na história do Brasil como o ministro que
ajudou o presidente a erradicar o analfabetismo, deixou um
descontentamento, que não é mágoa. Eu devo ao Lula ter sido ministro.
Não posso reclamar por ter sido demitido, ele tinha todo o direito.
Quanto ao PT, também não tenho mágoa. Lamento que ele tenha perdido o
vigor transformador e tenha se transformado num partido que dá
importância exagerada à institucionalização e aos cargos, que é coisa
dos partidos mais tradicionais.

Se não há mágoa, por que saiu PT?
Muita gente acha que saí por causa de mensalão, de pessoas que fizeram
coisa errada. Isso não, porque foram algumas pessoas do PT. O PT é um
partido de gente honesta, na imensa maioria. Saí porque o PT perdeu o
vigor transformador.
Uma certa relação de amor eu nunca perdi com o PT. Eu sempre digo que
o PT nunca conseguiu sair de mim. O PT saiu do PT. Mas, ainda está em
tempo do PT voltar a ser petista.

E as relações na política local, como andam?
Duas coisas eu vou dizer. Uma é o fato de que os grandes - PT, Roriz e
Arruda - estão desprezando os pequenos. É como se a gente não
existisse e não tivesse força. Segundo, começam a acontecer muitas
conversas com o PT e com o Arruda. Essas conversas podem servir para
que eles descubram que, mesmo não sendo grandes, temos força. Eu tenho
certeza de uma coisa: nenhum partido se elege para cargo majoritário
sem o apoio do PDT, do PPS, do PCdoB, do PSB.
Sem nós quatro, Arruda não se reelege se apoiarmos o PT. Se formos
para o lado do Arruda, com toque de esquerda, o PT não elege seu
candidato.

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